ANTÓNIO MANSO PRETO

22, Antwerp/Porto


video, publication, sculpture, photography, archive, text, research, homoafectiveness, apropriation and loneliness



publication
2023

Quando voltei a Portugal apercebi-me da necessidade que se levantou de trabalhar com um arquivo de dezenas de horas de vídeo. Se, por um lado, apareceu um filme-diário por vir (ou seja, à espera de ser tornar filme), por outro, desembrulharam-se sobre uma mesa todas as possibilidades de um banco de imagens em movimento. Foi importante, antes do filme existir enquanto filme, tornar-se texto, no sentido em que existe na sua primeira forma no formato de livro. Um filme folheável, portanto.

O cinema, tal como a escrita, torna-se tarefa.


Lígia Flores, fala-nos de um cinema sem filme, como proposta necessária para pensar as possibilidades do trabalho cinematográ- fico. A tarefa que é o cinema, e a tarefa do cinema:

“Possibilidade de alucinar aquilo que (não) está lá sob o sol, à luz da claridade cegante da neve, da areia do deserto, da terra seca do sertão – imagens transpassadas pelo desejo de revolução. Alucinar a revolução. Alucinar a história. Criar bifurcações, outros possíveis.”




Vi quem desceu ate ca em baixo, gás à tabua, isqueiro ao gas ou óleo, tesoura ao cordão que liga os dois umbigos da ponta primeira à ponta segunda, meio que enlouquecido por determinado gesto comum. É por dentro do gesto que o musculo-força contrai e descontrai, contrai e descontrai. e Eu feminino, demasiado, fugaz ou tenro. Encontrei um livro do Artaud a 4 euros e assim foi ou se tornou ator da viagem que se decorria, cumplice do tempo que se pensava correto, e quando o era: dois desejos, o de morrer e o de voltar atrás. Foram os doutores que me roubaram a visão, nitida só a morte e as ceias anunciadas e o quarto em que tu te fechavas era LEAL como a manhã. Vi quem desceu até ca a baixo encontrar-se na loucura de não haver nada de novo. A CRUZ QUE ENCONTREI NO CHAO SÓ SERVIA PARA ME SENTIR SEGURO. Vi quem desceu até depois de mim, antes disso e Artaud, outra vez, Artaud-mesquinha em Ménage. VULTO OUTRORA TRÁGICO, diziam as canções e um rapaz embriagado como o sol descia as ruas da cidade, mas so se apanhavam algumas palavras: não…….. eu…….. vulto…….. mas…… 76 dias……. em que…. cercado………. E a loucura que quando errante, e a loucura que como harpas inspirará de poesia. cabelos………. Artaud…….. na……….. enlouqueci………. Compreendi que sim, era o poema de quem viu o firmamento obliquo.